Patrícia Silveira – Comunicação Consciente

A grande maioria das pessoas com quem você convive não vai usar CNV com você. E aí?

Minha filha Maria, aos 9 anos, teve um conflito durante uma aula de robótica. Ela e as amigas queriam fazer a mesma função na programação do robô. Maria me contou assim:

– Eu fiquei muito, muito irritada! Elas não deixavam eu fazer o que eu queria. Aí eu fui para o banheiro, lavei o rosto, respirei e coloquei minhas orelhas de girafa. Pensei: calma, todas nós queremos a mesma coisa: fazer um bom robô e se divertir!

A girafa é o símbolo da CNV. Colocar as orelhas de girafa significa se conectar com a Comunicação Não Violenta. E ela fez isso muito bem até ali! (Na fala dela consigo mesma usou algumas ferramentas de CNV e de mediação de conflitos).

Aí perguntei:

– E como foi, filha, quando você voltou pra sala de robótica?

– Não adiantou nada, mãe! Foi igual antes! Elas continuaram não me deixando fazer o que eu queria! – Maria me respondeu.

Eu expliquei pra ela:

– Quem tinha condições de ser diferente era você, que estava com as orelhas de girafa. Não elas.

Essa frustração também acontece com os adultos. É bem comum que as pessoas, quando começam a estudar Comunicação Não Violenta, fiquem frustradas porque os outros não estão usando essas mesmas ferramentas. E é claro que não estarão, né? Se não estão estudando o mesmo que nós. Mesmo assim, está sujeito criarmos essa expectativa.

Com as pessoas que já nos conhecem bem no nosso outro modo de nos relacionar – aquele para o qual fomos educados, sem usar a CNV – pode ser que demore um pouco para os diálogos serem mais pacíficos. Com essas pessoas, se tivermos intimidade, podemos dizer que estamos tentando uma nova maneira de nos comunicar. Com firmeza e persistência, vamos mostrando nossa nova versão. E a reação do outro, pode mudar. Ou não. Mas, se você mudar, já é uma grande mudança na relação, certo?

Com pessoas que temos menos contato, também podemos usar a CNV – mesmo que o outro se expresse de uma maneira bem diferente da nossa. É uma questão de consciência. De coerência com o que acreditamos e o que queremos.

Afinal, ficar com a consciência tranquila após uma conversa desafiadora, é um tesouro, né?

Que você consiga ser firme no seu propósito de ter relacionamentos mais verdadeiros, presentes e pacíficos!

Patrícia Silveira

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