
O desafio de ensinar enquanto aprendemos a usar as ferramentas da CNV
Havíamos acabado de nos mudar para Blumenau e minha filha mais velha tinha 9 anos. Chegamos na cidade com a expectativa de ter mais tempo em família, mas algumas coisas mudaram no trabalho e isso acabou não acontecendo.
Em uma das manhãs em que saímos de casa cedo, cheios de compromissos, Sofia acordou emburrada. Falava pouco e, quando falava, era para reclamar. Eu não tinha muito tempo para conversar então, deixei para falar enquanto estivesse no carro.
No caminho, perguntei: “Você está frustrada porque gostaria muito de ter mais tempo em casa com a mamãe?”. Até então, ela não tinha chorado. Foi aí que o chorou chegou com força. Enquanto chorava muito, ela falou em um tom mais alto do que costumava falar:
– Sim, estou muito frustrada! Eu achei que ficaríamos mais tempo juntas em casa e que eu não precisaria acordar tão cedo! E não é isso que está acontecendo!
Eu agradeci por ela ter me falado isso. Disse que, ao mesmo tempo que era importante ela se expressar, o respeito e a consideração também são importantes para mim. E, aquele volume de voz, não atendia essas minhas necessidades. Então precisávamos encontrar uma forma de ela se expressar enquanto respeitava essas minhas necessidades também. E falei o quanto eu também me sentia frustrada por meus planos não estarem de acordo com o que eu gostaria.
Sofia olhou então pela janela e disse:
– Mãe, olha que passarinho lindo ali no poste!
O que aconteceu com Sofia?
Ela teve espaço para falar do sentimento e do que estava precisando. E, com isso, conseguiu liberar aquilo e olhar para as coisas bonitas que havia perto dela.
A Comunicação Não Violenta nos ensina a ser firmes enquanto ajudamos a criança a entender o que está acontecendo dentro dela. Também nos ajuda a entender o que acontece dentro da gente. E é possível fazer isso enquanto a gente estuda e aprende CNV. Marshall Rosenberg – sistematizador da CNV – se encontrou com o pedagogo brasileiro Paulo Freire. Num dos workshops, Marshall citou Freire dizendo que via a CNV como o pedagogo brasileiro via a educação. Disse que é possível ensinar enquanto aprendemos. Nas palavras de Paulo Freire: “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”.
Nos meus treinamentos e workshops sobre CNV em Blumenau eu tenho falado mais sobre essas ferramentas na educação dos filhos. E como conciliar firmeza com amor.
Desejo que você também esteja cuidando da sua forma de se expressar com seus filhos.
Com carinho,
Patrícia Silveira
Veja também: